segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Para Tainá.

  Minha cara irmã,

  Como bem sabe, sou mais velho do que você, portanto acompanho sua vida desde o princípio, o que me dá uma boa perspectiva de quem é e como foi se construindo. Confesso que sua chegada não foi muito bem vista por mim, afinal de contas você tirou meu trono de filho único, de sobrinho único e neto único na família da mãe. Mas com o tempo eu superei isso, águas passadas, ciúmes de criança.
  Lembro da nossa infância, era uma menina divertida, sua dificuldade de fala fica em minha memória auditiva até hoje, me pego rindo sozinho quando ecoa na minha mente a seguinte frase: "fala dieto, menina!" Você era uma graça, ah, aquelas bochechas! Lembro das nossas brincadeiras, lembro de levar você na aula, lembro da professora me falando que você chorava quando não conseguia fazer algo (agora eu estou chorando ao lembrar tudo isso). Não pude estar na sua formatura na pré-escola, fui viajar para ficar em Bagé com o tio Chico nas férias (também tenho ótimas lembranças do tempo que passei lá), mas lembro como se fosse hoje das suas fotos fazendo cara feia. Não posso esquecer de como gostava de pentear os outros e enfeitar a cabeça com suas dezenas de prendedores de cabelo. Nossa, como era fujona! Sempre queria ir para casa de algum vizinho. Lembra como gostava que alguém mexesse na sua orelha para dormir?
  Conforme foi crescendo, sempre admirei sua coragem, acho que este é o ponto mais forte, sua qualidade que sempre se destacou para mim. Vi você fazer coisas que nem eu fiz, que não tive coragem como irmão mais velho, mas você estava lá. Essa sua coragem possibilitou que assumisse quem é, ainda mais numa sociedade tão problemática e preconceituosa quanto vivemos.  Sempre meu lado de irmão bobão ficou tão feliz ao ver essa sua capacidade. E o seu humor, simplesmente adoro seu estilo de deboche.
  O tempo foi passando e fomos crescendo, talvez por interesses diversos, fomos nos fazendo menos presentes na vida um do outro. Mas saiba que nunca deixei de gostar de você, de lhe acompanhar de alguma forma, minha falta de conversa não significa indiferença, talvez minha timidez impeça que fale o quanto amo e considero cada uma das pessoas que são importantes para mim.  Me perco na rotina, nas minhas loucuras e acabo sacrificando quem tanto importa, quem tanto faz diferença para mim.
  Além de trazer todas essas lembranças e pensamentos, escrevo justamente para dizer o quanto gosto de você, o quanto lhe amo. É possível que eu não consiga fazer isso pessoalmente, então recorri à escrita, onde consigo colocar aquilo que não sai de outra forma. Quero que saiba que sinto sua falta, que penso em você, que me preocupo com seu bem. Se não digo, pelo menos acho que já demonstrei que pode contar comigo e sempre poderá, seja para o que for. 
  Acompanhei tão de perto sua infância, já não posso fazer isso agora por conta da distância que nos separa, isso é difícil, mas tentarei ser mais presente através do que a tecnologia nos proporciona, espero pelo menos minimizar minhas falhas. 
  Sabe que não acredito em nenhuma divindade (meu lado racional e materialista me impede), mas espero que seu Deus sempre lhe conforte e acompanhe quando ninguém estiver por perto ou se precisar Dele, sei o quanto isso é reconfortante para a maioria das pessoas e para você.
  Espero lhe ver em breve, estou morrendo de saudades. Precisamos colocar as conversas em dia, relembrar muita coisa e farrear por aí. 
  Desculpa fazer este texto tão brega e expor assim, para todo mundo. Mas que tipo de familiar eu seria se não a fizesse passar vergonha?!
  Te amo. Saudades. 
 Do seu irmão esquisito, Rafael Adilio.